Miley Cyrus é prejuízo ao público em 'A Última Música'
Miley Cyrus e Liam Hemsworth em cena |
Assistir ao filme A Última Música é sentir pena de Nicholas Sparks. Se ele for como quase todo escritor, ele não adaptou seu romance para o cinema como um exercício de cinismo, mas na esperança de estar fazendo algo que valesse a pena. E essa esperança implodiu com a escolha de Miley Cyrus para o elenco, em sua estreia como estrela de um filme dramático.
Claro, Cyrus fazia sentido sob o ponto de vista das bilheterias - esse é o horror, a barganha do diabo. Mas será que em algum momento do processo, enquanto os agentes eram contatados e as ofertas feitas, alguém pediu que ela fizesse um teste de câmera? E se ela o fez, será que alguém parou de pensar nas cifras e de fato prestou atenção? Porque a conclusão aqui é que Cyrus está péssima em A Última Música, não apenas em um ou dois aspectos, mas em todos eles. Foi um prejuízo ao público, à obra e à própria Cyrus por ter se colocado nessa posição.
Cyrus não consegue pensar na frente das câmeras, o que significa que ela não sabe atuar. Tudo que ela sabe fazer é interpretar uma atitude. No papel de uma adolescente sofrendo com o divórcio dos pais, Cyrus mantém apenas um tom - raiva - cena após cena. Não há nenhuma angústia motivadora por trás da raiva. É tudo resmungo e desdém de superfície e, em minutos, ela afasta o público. Ela se torna repulsiva e parece não perceber.
Está no roteiro, por exemplo, que, assim que Ronnie (Cyrus) chega com seu irmão caçula à casa do pai (Greg Kinnear) para passar o verão, o garoto mais bonito da cidade (Liam Hemsworth) imediatamente se interessa por ela. Mas nada na atuação ou no jeito de Cyrus indica por que ele deveria se interessar pela personagem.
Embora Cyrus se movimente bem na atmosfera controlada de seus videoclipes, A Última Música revela uma presença nada graciosa, em que ela salta desajeitada de cena em cena. Seu rosto, que vira para baixo quando deveria virar para cima, não tem sutileza, e seu sorriso não é cativante nem convincente. Ela tem a aparência e a aura de uma atriz secundária sem talento. Charme na tela poderia ajudar muito a cobrir falhas na atuação. Infelizmente, Cyrus não tem charme cinemático ou então fez o melhor trabalho de suprimi-lo na história recente.
Assim, A Última Música tem um problema. Todo o mecanismo do filme é construído em torno do nosso interesse no desenvolvimento emocional de uma personagem que rapidamente passamos a desejar que desapareça. Mas A Última Música tem mais do que o problema Miley Cyrus. O filme também tem problemas de roteiro, e é aí que deixamos de sentir pena de Nicholas Sparks e passamos a nos comiserar por Julie Anne Robinson, uma diretora de TV em seu primeiro longa-metragem.
Será que Robinson relutou em questionar Sparks sobre cenas que não fazem qualquer sentido emocional? Existe pelo menos meia dúzia delas em A Última Música - crises forçadas, argumentos forçados, reações forçadas. A construção do enredo é fraca. Os incidentes não fluem numa sequência lógica. Ao invés disso, uma coisa acontece. Então outra (sem relação) acontece, depois outra. Embora a maior parte do filme envolva conversas entre adolescentes, os jovens em A Última Música não falam como nenhum adolescente desse planeta. Greg Kinnear é cativante e preciso como o pai de Ronnie, mas fora isso, o filme é um lamaçal de sentimentalismo morno.
Há uma ideia sobre a vida que é transmitida aqui, algo sobre as pessoas serem imperfeitas, cometerem erros, fazerem besteira. Isso é dito pelo menos três vezes ao longo do filme. Mas no final das contas, conclui a ideia, as pessoas têm boas intenções e tudo dá certo. Essa é a mentira reconfortante.